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RESENHA: "Eu sei por que o pássaro canta na gaiola"

Atualizado: 22 de jun. de 2020

Por: Paula Chidiac

"Eu sei por que o pássaro canta na gaiola" é uma obra que, embora publicada em 1969, infelizmente ainda retrata reflexos da sociedade atual. A íntima narrativa auto bibliográfica de Maya Angelou (1928-2016) atravessa a todos os leitores com sua trajetória de sofrimento, abuso, racismo, alegria e libertação. Além de escritora, ela também foi roteirista, atriz, cantora, dançarina, escritora, poetisa, ativista de direitos civis, entre outros.


Foi na época da segregação na cidade de Stamps, no Arkansas, que Marguerite Ann Johnson cresceu. Criada pela avó paterna Momma e pelo tio Willie, tinha como maior confidente seu irmão Bailey, um ano mais velho. Aliada de um olhar perceptivo, a autora rememora com facilidade memórias de quando tinha entre três a quatro anos. O resultado é um cenário descrito vividamente, capaz de transportar qualquer um para o Mercado da cidade, dirigido por sua avó.


Lá, Negros — em maiúsculo, como a autora escreve — catadores de algodão buscavam os itens necessários para sua sobrevivência. Contudo, a garota já sabia que a labuta do campo não permitiria jamais que pagassem suas dívidas com Momma. A percepção de Maya, desde cedo, não se limitava somente àquilo que era visual, mas também à condição de ser Negro. Embora narrada em primeira pessoa, a história frequentemente fala em “nós” — os Negros —, acompanhada de questionamentos sobre a própria raça e o motivo pelo qual passavam por aquelas situações.


Os irmãos haviam chegado a Stamps com pouca idade, acompanhados apenas de um funcionário do trem que desceu antes do destino final das crianças. Até os seus sete anos, Maya viveu a negação da existência dos pais, no que ela julgava ser a única explicação plausível pelo seu abandono. Essa suposição é quebrada quando seu pai aparece sem avisar, pronto para levar os irmãos para viver com a mãe, em St. Louis, Califórnia.


Apelidada de "Mamãe Querida", Vivian Baxter era o oposto de Momma: enquanto a avó paterna era religiosa e rigorosa, a mãe dos irmãos ria alto, dançava e frequentava bares. Com Vivian morava seu namorado, sr. Freeman, que mais tarde estuprou Maya. Mesmo com a alta do hospital, a garota seguiu carregando a marca do abuso. O homem foi preso por um dia e, semanas depois, foi encontrado sem vida. Maya, por entender que sua fala poderia acarretar a morte de uma pessoa, emudeceu por anos. Voltou a falar quando disseram a ela que não era possível gostar de poesia sem recitá-la.


A obra "Eu sei por que o pássaro canta na gaiola" tornou-se leitura obrigatória nos Estados Unidos, logo sendo banida de diversas escolas. Em 1983, o Comitê de Livros do Estado do Alabama alegou que a obra pregava "amargura e ódio contra os brancos". Diversos outros locais fizeram o mesmo, com justificativas que variam entre ter cenas de estupro explícitas até não representar "valores tradicionais”. O livro, porém, nada mais é do que a dolorosa história de uma criança Negra nos anos 30. Vide o poema de Paul Laurence Dunbar, que inspirou o nome do livro: o pássaro canta não por alegria, mas para suplicar por liberdade.


Sympathy

Paul Laurence Dunbar


“I know why the caged bird sings, ah me,

When his wing is bruised and his bosom sore, —

When he beats his bars and he would be free;

It is not a carol of joy or glee,

But a prayer that he sends from his heart’s deep core,

But a plea, that upward to Heaven he flings —

I know why the caged bird sings!”


Nota: 5/5


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